A disputa de poder na conjuntura e os desafios de organização da classe trabalhadora - CFESS divulga nota sobre a situação atual do país
“Bordar novas quimeras
Para quê,
No desapegar das agonias, do caos enlouquecedor e da hipocrisia escravizada
Possamos virar a página da pré-história desumana
E tecer no amanhecer de um novo cotidiano
Outrora ilusões desejadas”.
(daniela castilho)
As posições do CFESS têm sido
historicamente muito nítidas e autônomas quanto aos governos brasileiros
e aos interesses das classes dominantes. Nossa profunda e necessária
crítica reitera nossa responsabilidade com o que a categoria de
assistentes sociais construiu nas últimas décadas com o projeto
ético-politico, e nosso compromisso com a classe trabalhadora, classe a
que pertencemos e na qual construímos nossa identidade.
A atual gestão do CFESS, Tecendo na luta a manhã desejada, mantém esta direção política, no reconhecimento de que, numa sociedade desigual, a ideologia é prática inevitável da luta de classes.
Nessa perspectiva, realizamos, junto com outras entidades e movimentos
sociais, a crítica aos governos que fortalecem o projeto das elites e
suas opções em favorecer o capital em detrimento das condições de vida
da população, especialmente por meio da privatização da saúde, educação e
violação dos direitos sociais e humanos. Repudiamos, pelos vários
informativos CFESS MANIFESTA, o conservadorismo e reacionarismo que tão fortemente se expressam em nosso país.
Nessa perspectiva, lançamos em 2015 um primeiro CFESS MANIFESTA sobre essa conjuntura (clique para acessar),
no qual reiteramos a posição autônoma quanto ao atual governo e contra
sua adesão ao projeto de conciliação de classes, que favoreceu os
interesses do grande capital, implementando algumas escassas e tímidas
reformas sociais. Projeto que nos impacta diretamente como categoria,
nas condições de rebaixamento da nossa formação profissional (a exemplo
do crescimento exponencial do EaD) e precarização do trabalho (expressa
na regulamentação da terceirização e outras formas de flexibilização do
trabalho), amplamente por nós debatidos e expressos em documentos
disponibilizados no site da entidade.
Também denunciamos que os ataques aos direitos conquistados pela classe
trabalhadora não foram poupados e as condições de proteção social estão
cada dia mais nas mãos do capital privado, como bem revelam a
previdência social, a educação e a saúde neste país. Alguns dos
flagrantes da direção política do governo petista na continuidade da
política econômica do ajuste fiscal e sua concessão ao mercado
financeiro são expressos pelo investimento na Ebserh, Funpresp e no
Fies como o maior custo do MEC.
Os acontecimentos dos últimos dias de
ataque ao ex-presidente Lula representam, em nossa opinião, o resultado
desastroso, mas esperado, das opções históricas do Partido dos
Trabalhadores ao romper com a necessária radicalidade do projeto da
classe trabalhadora e fortalecer seu compromisso com as elites, pela
perspectiva da conciliação que ora chega ao esgotamento ante a crise
econômica. Acompanha este processo o repúdio das elites a tudo que
representa o mínimo de avanço dos direitos dos/as trabalhadores/as,
mesmo que tão frágeis e cheios de contradições, como nos últimos
governos.
O que se espalha no país hoje é movido ainda pela grande mídia,
expressiva do oligopólio de uma comunicação não democratizada e dominada
por poucos grupos familiares da elite brasileira. Lula e o PT, por
mais que tenham abandonado os interesses da classe trabalhadora, trazem,
simbólica e contraditoriamente, algumas referências dos movimentos
sociais. Movimentos que conduziram tensões históricas importantes e
fazem tremer a aristocrática burguesia brasileira que hoje conduz, com sangue no olho, a disputa de governo em meio a uma crise estrutural.
Por isso, na nossa avaliação, o comportamento recente da Polícia
Federal, do Poder Judiciário e ainda as ações absurdas da Polícia
Militar no Sindicato dos Metalúrgicos em Diadema (SP), ilustram essa
reação antidemocrática e antipopular de forma cristalina. Repudiamos
estas ações políticas e seletivas de suposto combate à corrupção.
Reconhecemos a necessidade de investigação ampliada de todos os partidos
e pessoas envolvidas com a usurpação do dinheiro público, mas
compreendemos que o direcionamento unilateral é parte da reação das
classes dominantes que não mais identificam o PT e Lula como autênticos
representantes do projeto do grande capital. Lembramos ainda que esta
seletividade do Judiciário não é bem uma novidade para a população
negra, nordestina e a juventude pobre, que enfrentam cotidianamente a
luta pela sobrevivência e têm, na resistência, o mote constante de sua
criminalização, e por vezes, até a morte.
O que nos preocupa e, ao mesmo tempo, nos alerta é saber que parte do
fascismo, presente em várias manifestações, é também direcionado à
classe da qual Lula se originou e atinge sim a luta dos direitos sociais
e humanos, da liberdade de expressão e ainda os movimentos sociais
organizados na perspectiva da radicalidade. Fossem somente direcionados
ao PT, os panelaços e aplaudaços, plenos de falta de
conhecimento da história e cultura, não vociferariam repúdio contra
bandeiras, direitos e a todo e qualquer sinal de reação e organização
da classe trabalhadora.
Lula e o PT tomaram direção divergente dos interesses de classe,
prejudicando inclusive o seu próprio poder de mobilização e força da
organização para enfrentar o reacionarismo crescente, mas a luta
continua no lugar onde sempre esteve e com quem dela necessita. Se
apontamos a necessidade urgente de reconstrução do campo político com um
caráter critico e radical, temos esperança no poder histórico das lutas
sociais.
Assim, nos posicionamos contra a crescente onda conservadora, porque
ela atinge também nossas reivindicações históricas. Reforçamos a
importância de proteger as conquistas da democracia, que, a despeito de
suas contradições, resguardou a duras penas os direitos e legalidade de
organização da classe trabalhadora. Ressaltamos, no entanto, que o
caminho essencial para a força e unidade dos/as lutadores/as é, sem
dúvida, a busca por superarmos ilusões e mitos e avançarmos na
articulação política coletiva da classe. Sigamos juntos/as com quem se
mantém na luta, sintonizando discursos e práticas cotidianas em defesa
dos/as trabalhadores/as e o projeto de emancipação humana.
CFESS
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