DEMÊNCIA FRONTO TEMPORAL (DFT) NO IDOSO: CRITÉRIOS CLÍNICOS PARA O DIAGNÓSTICO DA VARIANTE E A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL.
Por: Zilma Pinheiro –Terapeuta Ocupacional
Pós graduanda em Gerontologia e Saúde Mental
CREFITO 12 Nº 18735.2 TO
Orientadora: Márcia W. Araújo
marwilmon@gmail.com
O
envelhecimento humano tem se tornado um tema em constante evidência na mídia,
na sociedade em geral, e isso acaba despertando a curiosidade a respeito desse
processo. Processo esse, progressivo e dinâmico.
É
justamente partindo desse dinamismo que são notáveis as modificações
morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, como requisito marcante
da perda gradual da capacidade de adaptação do indivíduo no meio ambiente.
Essas transformações causam várias incidências de processos patológicos que podem
levar a morte.
Cabe salientar que na medida em que há um
considerável aumento da população idosa, é crescente e notória a prevalência
das doenças crônico-degenerativas, como por exemplo, a Demência Frontotemporal.
Essa doença ocupa o sexto lugar no grupo de doenças mais relevantes no que diz
respeito ao impacto da funcionalidade e da morbidade em idosos, sendo algo
muito comum nessa ocasião, são as queixas relacionadas ao declínio cognitivo.
Demência frontotemporal
e sua manifestação.
A
Demência Frontotemporal (DFT) ou doença de Gafe é uma síndrome neuropsicológica, caracterizada pela
condição neurodegenerativa progressiva, condicionada pelo comprometimento
seletivo do Lobo[1]
Frontal e Temporal. Essa síndrome é a segunda causa mais frequente de demência
no mundo, por causar deterioração cognitiva, funcional e emocional, ocasionando
repercussão na vida social ou ocupacional do indivíduo.
[1] Lobo frontal e temporal: Lobo Frontal é um dos cinco lobos
do cérebro humano ou cortéx cerebral. Temporal é a estrutura responsável pelo
gerenciamento da memória.
A manifestação da DFT se dá em consonância com a
atrofia das estruturas do Lobo Frontal e Temporal, que são considerados relativos
à preservação dessa região cerebral. Essa manifestação provoca alterações de
personalidades, em comportamentos e na linguagem.
Na interpretação de Neto, Tameline e Forlenza
(2005) entre 10% a 15% dos casos de Demência Frontotemporal ocorrem em
indivíduos com idade entre 40 a 65 anos, tanto no homem quanto na mulher. A DFT
inicia seu estágio nos lobos frontais e temporais, no qual o paciente acometido
mostra discreto comprometimento em sua memória episódica e em seu
comportamento. Essa precoce transformação provoca alterações na conduta social,
como por exemplo, a desinibição, rigidez e inflexibilidade mental,
hiperoralidade, comportamento estereotipado e perseverante, desejo incontido
por objetos no ambiente, distraibilidade, impulsividade, falta de persistência
e perda precoce da crítica.
Diante das causas citadas, destacamos
que o artigo Como diagnosticar as quatro
causas mais frequentes de demência? aponta que existem duas formas clínicas
para a manifestação da doença mencionada, sendo uma comportamental e outra
relacionada à linguagem. Essas formas clínicas são divididas em três variantes:
A Afasia não fluente, Demência Semântica e Afasia Logo pênica progressiva.
Assim, a afasia não fluente manifesta-se por
déficits progressivos na expressão da linguagem, erros gramaticais, fala
hesitante, parafasias[1]
e dificuldade de compreensão de frases com sintaxe completa. A Demência semântica é explicada pela anomia[2]
e dificuldades na compreensão de palavras com fluência e estrutura gramatical
preservada, assim como pela dificuldade de compreender e nomear objetos,
exemplo: “Que a uva é um alimento, mas não sabe o significado específico que a
uva é uma fruta”. Já a Afasia logopênica
progressiva é caracterizada pelo déficit de recuperação de palavras, com
eminente perda de fluência verbal, seguido de pronúncia em discurso lento e
interrompido, como assinalam.
[1] Parafasia: É u tipo de erro na expressão da linguagem
associada com a afasia que é caracterizada pela produção involuntária de
sílabas, palavras ou frases.
[2] Anomia: É um estado de falta de objetivos e regras e de
perda de identidade, provocado pelas intensas transformações ocorrentes no
mundo social.
Caramellia e Barbosa (2002) comentam que os critérios
clínicos para o diagnóstico da Demência Frontotemporal são esclarecidos por
meio de alguns sintomas que se manifestam de forma ardilosa e precoce na vida
do indivíduo, como por exemplo, a falta de autocrítica, desinibição,
distraibilidade, como já mencionamos, acrescentamos ainda a inquietude motora,
a diminuição da empatia e desinteresse, apatia ou falta de iniciativa, descuido
do aspecto social, redução da produção espontânea da linguagem, bulimia,
hiperatividade sexual, transtornos psiquiátricos como condutas violentas,
dentre outros.
Convém salientar que mesmo diante dos
sintomas supracitados, a DFT é uma doença altamente complexa, já que apresenta
dificuldades para sua identificação. Às vezes é erroneamente diagnosticada, o
que de certa forma pode gerar tratamentos inapropriados, causando transtornos
para o paciente e a família. O diagnóstico consiste em uma avaliação
neuropsicológica, exames neurológicos, com incentivo de estudos de imagiologia[1]
crânio-encefálica.Na fase mais avançada da doença,o paciente necessita de apoio
familiar para a realização de suas tarefas de vida diária.
Cabe salientar que não há cura para a DFT,
mas é possível controlar algumas manifestações, como impulsividade e agressividade
com remédios específicos, e sua evolução é mais rápida que a doença de
Alzheimer, deixando os pacientes institucionalizados mais precocemente. O tratamento é baseado em intervenções
medicamentosas, necessitando de equipe multiprofissional: médico, enfermeiro,
psicólogo, terapeuta ocupacional, etc.
A contribuição da
terapia ocupacional na reabilitação do paciente demenciado.
Com
o crescente aumento da longevidade de vida do ser humano, existe uma grande
necessidade em se implementar ações que possam prover a conservação da saúde,
da funcionalidade e da qualidade de vida da população idosa. Quando se trata de
doenças como a aqui discutida é que a Terapia Ocupacional se apresenta de suma
importância, pois enquanto ciência e profissão da área da saúde tem um
importante papel no tratamento, reabilitação e organização da rotina de pacientes
com demência.
[1] Imagiologia: Exame de imagem.
Dessa
maneira, a Terapia Ocupacional busca compreender os desafios da DFT, suas
limitações e inúmeras consequências que ocorrem na rotina do indivíduo,
auxiliando no processo de reabilitação do demenciado, intervindo nas perdas
cognitivas, motoras, nas relações sociais e nas dificuldades de realizações de
Atividades de Vida Diária (AVD’s), assim como nas atividades instrumentais da
vida diária (AIVD’s), tais como: trabalho, lazer, sempre visando à autonomia do
sujeito.
Por isso é relevante à intervenção
terapêutica ocupacional junto a pacientes com DFT, pois suas ações propiciam a
identificação das habilidades e dos fatores que causam as limitações por meio
de uma avaliação, seguido do planejamento, execução da intervenção e
reavaliações periódicas. Essa intervenção estende-se desde a avaliação do
desempenho ocupacional até as adaptações realizadas na moradia do paciente. Cabe
frisar que a realização da intervenção supracitada de forma precoce, pode
protelar maiores comprometimentos e limitações na vida do demenciado.
Para
se iniciar o processo de reabilitação do paciente se faz necessária uma
ponderação, para analisar quais aspectos funcionais do paciente estão
comprometidos. A avaliação é necessária
para poder se estabelecer um plano de tratamento terapêutico ao paciente e para
saber se o mesmo está apresentando resultados benéficos, pois sua rotina precisa
ser devidamente organizada.
Para Monteiro (2013) é de fundamental
importância fazer uma entrevista com o paciente e seu responsável e/ou cuidador
por meio de um protocolo, para saber seu grau de comprometimento físico,
mental, cognitivo, dentre outros.
O
fazer humano, a ação e o cotidiano, são objetos de intervenção da terapia
ocupacional, nesse sentido, destaca a atividade como principal recurso
terapêutico, como forma de promover saúde e preservar os níveis perceptivos e cognitivos.
Atividades como jogos – que envolvam e que tenham como recursos letras,
números, leitura, orações, poesias – podem ser utilizados na intervenção
terapêutica do paciente com DFT. Vale ressaltar que muitos desses objetos são
do seu contexto de vida. Ressalta-se que a terapia ocupacional mostra sua
eficácia por meio da atividade, oportunizando ao idoso demenciado a capacidade
de desenvolvimento de suas habilidades, mantendo-se independente.
O aspecto
cognitivo está entre os mais afetados pela DFT. Nesse contexto é valido
ressaltar a necessidade de uma intervenção terapêutica específica para o
paciente demenciado, com atividades que mantenham o desempenho da memoria, a
consciência, a sequência lógica, a capacidade de fazer escolhas e etc.
Após a
reabilitação cognitiva do paciente com demência, é importante destacar que a
próxima ação a ser realizada é justamente a atividade de vida diária. As
atividades de vida diária (AVD’s) são tarefas que devem ser realizadas pelo
indivíduo satisfatoriamente, como: banhar-se, vestir-se, usar o banheiro,
locomover-se e ter controle fecal e urinário. Entretanto quando o indivíduo não
consegue realizá-las, há a necessidade de intervenção para que este se torne o
mais independente possível, minimizando suas limitações.
Segundo
Monteiro (2013), a demência está relacionada à perda da funcionalidade,
causando também prejuízos no que diz respeito à autonomia e independência do
paciente. Por isso, recomenda-se o treino de atividades de vida diária, como
estratégia de manter suas funções mais ativas na medida do possível, bem como a
capacidade de gerir sua vida e desempenhar seus papeis sociais com eficácia,
uma vez que o treino de AVD’s estão relacionados com a capacidade do
autocuidado, isso pode ser realizado por meio de intervenções ambientais.
A terapia
ocupacional também intervem no contexto ambiental no qual o paciente acometido
pela demência reside. É importante ter o conhecimento de que o paciente
demenciado tem dificuldade de adaptações, nesse caso, a intervenção deve ser
realizada de forma eficaz, evitando transtornos.
É preciso que haja um ambiente
adequado, com boa iluminação, sem ruídos externos, sem objetos que sirvam de
empecilhos no trajeto, piso não escorregadio, banheiro com adaptações, cadeiras
e camas confortáveis. A rotina do paciente deve ser mantida, os horários
regulares para dormir, acordar e se alimentar não devem ser alterados. Por esse
motivo é tão essencial às intervenções, como a também discutida adiante.
Por fim, essa intervenção evidenciada se estende aos
cuidadores, pessoas importantes que cuidam e acompanham o paciente. Nessa
ocasião a orientação é necessária e cautelosa, especialmente quando se trata
dos cuidados sequentes com o paciente. Deve-se considerar seu atual estado de
saúde, pois é fato, o cuidador pode adoecer, devido aos cuidados e preocupação
de forma excessiva.
Diante do exposto, a Terapia Ocupacional intervém
diminuindo o estresse emocional, o cansaço, a fadiga, a tensão, criando e
adaptando melhores condições de vida para paciente e família, respectivamente.
REFERÊNCIAS
CARAMELLIA Paulo; BARBOSA, Maira Tonidande. Como diagnosticar as quatro causas mais
frequentes de demência? Rev Bras
Psiquiatr 2002; 24 (Supl I): 7-10.
EVANGELISTA, Diana Sofia Monteiro. Promoção
da Saúde em Idosos Projeto de Intervenção na Demência. Escola Superior de
Tecnologia da Saúde de Coimbra. Dissertação de Mestrado, 2013. Orientador: Ana
Paula Amaral.
GALLUCCI, Neto, José.; TAMELINI, Melissa Garcia.;
FORLENZA. Orestes.Vicente. Diagnóstico
diferencial das demências Disponível
em:< http://www.scielo.br/scielo.>. Acesso em: 18 Jan de 2018.
HOLANDA, Aurélio Buarque. Dicionário Aurélio on line.
Disponível em: http://dicionarioaurelio.com. Acesso em 14 de Jan de
2018.
IKEDA, Nathália
Chiu Lan Ko ; LEMOS, Naira Dutra ; BESSE, Mariela. (2014, setembro). A Terapia Ocupacional na reabilitação de idosos com Comprometimento
Cognitivo Leve. Disponível em:< https://revistas.pucsp.br/index.php/kairos/article/view.>.
Acesso em: 18 Jan de 2018.
MENDES, Rita Bouceiro. Demência Frontotemporal
Evolução do Conceito e Desafios Diagnósticos. Covilhã: Programa de Mestrado em
Ciências da Saúde, Universidade da Beira Interior, 2015. Dissertação de
Mestrado. Orientador: Francisco Álvarez Pérez.
MONTEIRO, Polyanna do
Nascimento. Atuação da Terapia Ocupacional junto a idosos com demência. Trabalho de Conclusão de Curso, da
Faculdade de Ceilândia, Brasília, 2013. Orientadora: Carolina Becker Bueno de Abreu.
SCHIMTZ, Vanessa Thaís Bassan. Efeitos do exercício sobre a funcionalidade de idosos com demência: um
estudo de revisão bibliográfica. Universidade do Rio Grande do Sul.
Trabalho de Conclusão de Curso, 2011.
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